sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Convocação Ideal

Com os amistosos das seleções no meio de semana, fiquei imaginando o que eu acho que é uma convocação ideal.

Este post não serve para falar qual é minha seleção ideal, mas sim com eu acho a forma ideal de se convocar uma seleção nacional de futebol. Se eu fosse técnico da seleção do Brasil, faria minha convocação baseado nesses critérios.

Primeiro, o técnico tem que olhar para os jogadores que tem a disposição e pensar qual desses jogadores não pode sair do time. São os jogadores de confiança, mas é bom que o sejam não porque o técnico confie neles, mas porque são aqueles que, mesmo em má fase, tem bola o suficiente. O exemplo, para mim, é o Ronaldinho Gaúcho.

“Jogadores de confiança” é um termo usado para jogadores que não merecem estar na seleção, mas o técnico teimoso coloca lá. Por isso que quanto mais argumentos lógicos que fogem da palavra “confiança”, melhor. Jogador de confiança derruba técnico de seleção.

Com esses jogadores que não podem sair, o técnico de uma seleção deveria pensar qual é a melhor forma de encaixá-los eles em campo. Pensar em jogador antes de tática geralmente é uma má pedida; com o pouco tempo que o time tem para treinar, o técnico não deve pensar em mudar muito a função dos jogadores, nem em “ver o que dá para fazer”. Se o técnico tem que mostrar personalidade é na hora de impor a forma que acha que o time tem que jogar, e não impor os jogadores que confia. Mesmo porque técnico é pago para montar time, e não para confiar em ninguém; em miúdos: queria ver se algum técnico seria contratado para dirigir uma seleção se chegasse falando: -Vim para confiar em jogadores que não deveriam ser convocados.

No meu caso, se fosse técnico da seleção, dois seriam os jogadores que não sairiam de jeito nenhum do meu time: Kaká e Ronaldinho Gaúcho. Por enquanto o Robinho entra nesse grupo, também.

Com Kaká, Ronaldinho e Robinho, como eu montaria a equipe? Eu tentaria montar o Brasil com 3 na frente, num 4-2-1-3 bem equilibrado: dois volantes, Kaká na armação, Ronaldinho na ponta esquerda, Robinho na ponta direita e um centro-avante.

Sendo assim, já tenho meu esquema, e os jogadores que faltam para que esse esquema funcione. Para um amistoso ou jogos das eliminatórias, eu pensaria em 22 jogadores que não mudassem muito o esquema da equipe, ou seja, 11 reservas que encaixassem-se nesse esquema de jogo. Para um torneiro, quebraria a cabeça para pensar algumas alternativas. É diferente jogar 2 vezes e treinar três dias do que jogar 7 partidas depois de uma preparação de um mês. Mas em nenhuma das duas opções eu deixaria de começar minha convocação da forma apresentada anteriormente.

Depois de escolhido o esquema, eu sei o que falta para minha equipe: preciso de uma linha de defesa padrão; para os dois volantes, pensaria em uma dupla marcadora, para poder liberar os laterais; o centro-avante, de preferência, um goleador nato, e não um jogador de movimentação.

Tendo os estilos de jogadores, iria atrás daqueles que estão em melhor fase e se encaixam nesse estilo. Aqui é um ponto em que discordo de muitas pessoas.

Para jogos da seleção, em geral, acho que deveriam ser convocados os jogadores em melhor fase, e não os que “já provaram algum dia que são bons jogadores”. Isso porque a seleção pensa sempre em curto prazo. A seleção só pensa em longo prazo para a Copa, e mesmo assim é um longo prazo de dois meses; para a maior parte do tempo, é uma semana de dois jogos e três treinos, então não há porque fazer uma convocação com um projeto em longo prazo, como em um clube de futebol.

Muitas pessoas têm essa idéia de que, para jogar na seleção, jogador tem que ser digno. Querem montar a Academia Brasileira de Letra, e não um time competitivo. É comum falar que “tal jogador não tem bola para usar a camisa da seleção”, não porque ele está em má fase, mas porque não vão com a cara dele, ou porque ele não é um Zico ou Falcão.

Eu, particularmente, acho que essa idéia vem desse saudosismo que insinuei: querem a seleção de 82 em campo, como se a seleção de 82 só tivesse craques. Não adianta querer ver o passado: vamos focar agora, e montar um time para jogar um bom futebol – o que é muito difícil com jogadores em má fase. Às vezes o brasileiro tem vergonha de ser humilde em relação à seleção, e arrogância nunca é bom.

Mantenho o ponto de jogadores em má-fase porque a seleção brasileira é cheia deles, hoje. Não me estranhe que jogue tão mal um time que tem uma série de reservas em sua equipe. O que é outro ponto: o Brasil é o único país que negligencia o campeonato nacional para convocar seus jogadores. Prefere-se reservas em má-fase de times médios na Europa a jogadores titulares em boa fase em times brasileiros.

Com a ida dos melhores jogadores do Brasil para a Europa, criou-se essa inversão (falsa) na cabeça das pessoas, que começam a achar que os jogadores que estão na Europa são os melhores do Brasil. E, como já falei antes, seleção é fase, não é história.

Voltando para a equipe: procuraria os jogadores em melhor fase para a função que ele tem que desempenhar em campo, e não para a posição, em geral. Se um meia de armação estão em boa fase, não sacrificaria um volante para colocá-lo na equipe, porque isso muda meu esquema, e perco o planejamento; a não ser que esse meia jogue uma bola em que ele entre no grupo daqueles que não podem sair da seleção, mas aí o esquema já seria diferente, com ele.

Digo isso porque um problema da seleção brasileira é a de colocar jogadores em posições erradas: jogador em posição errada joga pior, então não dá para fazer a avaliação contando como se ele fosse jogar a mesma coisa em outra posição. O Anderson (Manchester United) pode até jogar bem na armação, mas não é um bom volante, então não adianta colocá-lo lá, mesmo que não tenhamos um segundo volante vistoso.

Na escolha de jogadores na melhor fase, provavelmente encontraríamos dois jogadores em fases parecidas (como Luís Fabiano e Pato, hoje) e com características parecidas. Neste caso começaria a usar condições que, para mim, são super-estimadas, como participações em outros jogos da seleção, ou experiência. Super-estimadas porque elas são variáveis que sobrepõe o futebol jogado, variável que, para mim, nunca pode deixar de ser a variável principal. No caso de Luís Fabiano e Pato, ficaria com Luís Fabiano, não pelas “variáveis desempate”, mas porque o futebol deles, hoje, é parecido, e aí o L. Fabiano tem essas virtudes que o Pato ainda não tem.

Uma variável que contaria para mim é a idade do jogador: eu acredito que jogadores jovens devem ser preferidos a jogadores mais velhos, porque acredito que, no geral, a seleção faz bem para eles; sem falar que garante um jogador que no futuro pode jogar bem, e não perdemos caras como o Marcos Senna, ou a possível ida do Amauri para a seleção italiana.

Colocando meus critérios, hoje convocaria estes jogadores. Como é começo de temporada aqui, guio-me pelo ano passado; os europeus estão no meio de temporada (titular/reserva):

Julio César (Internazionale) / Victor (Grêmio)

Daniel Alves (Barcelona)/ Victor (Goiás)
Juan (Roma)/Lúcio (Bayern de Munique)
Thiago Silva (Milan)/ André Dias (São Paulo)
F. Aurélio (Liverpool)/ André Santos (Corinthians)

Pierre (Palmeiras)/ Rafael Carioca (CSKA Moscou – ex-Grêmio)
Hernanes (São Paulo)/ Ramirez (Cruzeiro)
Kaká (Milan)/ Alex (Internacional)

Ronaldinho (Milan) / Nilmar (Internacional)
L. Fabiano (Sevilla) / Keirrison (Palmeiras)
Robinho (Manchester City) / Pato (Milan)

Cabe dizer, o que já foi citado anteriormente, que, desses 22, só três com certeza estariam na próxima convocação: Robinho, Kaká e Ronaldinho. O Robinho talvez não, mas todos os outros poderiam mudar.

O Brasil é o único país que negligencia os jogadores do campeonato nacional para a convocação. Convoco Keirrison pelos gols mais de 30 que ele fez no Coritiba, não pelos 5 gols no Palmeiras; quero um matador, ele é um matador em boa fase. Prefiro ele ao Adriano, que há temporadas está em má-fase: não me preocupa se ele joga no Coritiba ou no Goiás: importa é a bola que ele está jogando.

Alguns jogadores que atuam no Brasil, como o Marquinhos (ex-Vitória, hoje Palmeiras), Kleber Pereira (Santos), Arouca (ex-Fluminense, hoje São Paulo), Miranda (São Paulo), seriam convocados há um mês atrás, ou se o esquema fosse outro. Com outro esquema, alguns jogadores que atuam fora também entrariam na seleção, como o Amauri (Juventus), Anderson (Manchester United), Éderson (Lyon), Alex (Fenerbahçe). Mas não adianta chamá-los se não tem onde colocá-los.

Para esse esquema dar certo, o técnico da seleção e seu staff deveria assistir a muitos jogos: de preferências todas as partidas da série A e B do Campeonato Brasileiro, as partidas como jogadores brasileiros nas grandes ligas européias e alguns de ligas menores, mas onde estão muitos brasileiros, como Ucrânia, Rússia e Japão. Provavelmente esses jogos passam nas TV nacionais, então de alguma forma dá para assisti-los. São muitos, sim, mas você é pago para isso, e fica muito tempo sem trabalho efetivo.

Infelizmente, na minha opinião, a convocação da seleção brasileira, hoje, é toda enviesadas: jogadores em má fase, de confiança do técnico, e mal escalados entram em campo. Não é de se estranhar que a seleção jogue tão mal: vários vícios, em várias etapas.

Porém, o jogo contra a Itália pareceu mostrar que o Dunga vai usar um 4-2-3-1, próximo ao que imagino como ideal para seleção, e as coisas podem melhorar para nós.

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