quarta-feira, 15 de abril de 2009

Chelsea 4x4 Liverpool

Qualquer time que tivesse tomado um 1x3 já estaria sumariamente eliminado da competição. As estatísticas mostram que mais de 160 vezes um time tomou esse resultado em casa e que só 4 vezes conseguiu revertê-lo.

Mas se existe um time para reverter esse placar, é o Liverpool. Não (só) pela qualidade dos jogadores, do técnico ou da torcida; o Liverpool, desde a virada história na Final da Champions de 04/05 virou o time dos resultados impossíveis. Ainda mais nessa temporada, em que entubou 4 gols em Real Madrid e Manchester United (este último fora de casa).

Só que a superação tem que ser sempre maior, e hoje o Liverpool não pode contar com o capitão Gerrard, que lesionado viu o jogo das tribunas. A pergunta passa a ser não se o Liverpool faz 3 gols no Chelsea, mas se o faz sem o Gerrard. O fim de semana mostrou que poderia acontecer, com o 4x0 em cima do Bolton, com show do meio-de-campo formado por Mascherano, Lucas e Xabi Alonso.

O jogo começa, e o Liverpool massacra o Chelsea no campo de defesa. O time de Londres, acuado, tenta o contra-ataque, sem nenhum sucesso. Dez minutos são o bastante para Fernando Torres perder uma grande chance, que parecia valer outro naquele momento.

Porém, mais 20 minutos foram necessários para que o Liverpool mostrasse que realmente poderia ser o time dos resultados impossíveis. Aos 19 minutos o Liverpool tem uma falta na meia-direita. O goleiro Peter Cech arma a barreira, orienta a defesa e se prepara para o cruzamento. Fábio Aurélio parte para a bola e chuta, a meia altura, direto para o gol: a bola faz uma curva caprichada e entra rente a trave, sem chance de recuperação do goleiro do Chelsea: ao esperar um cruzamento, o goleiro tcheco esqueceu de fechar o canto do gol, e Fábio Aurélio, num lance genial, põe o Liverpool em vantagem.

Mas um gol não era o bastante para o Liverpool, e o Chelsea pouco tinha a se preocupar, desde que mantivesse o resultado. Poderia até tomar mais um gol. O que de fato aconteceu, ainda aos 28 minutos da etapa inicial. O Liverpool manteve a pressão, e, num cruzamento, o zagueiro Skrtl perde um gol feito. O lance é parado, e o narrador imagina que foi marcado um impedimento; a câmera fecha em Skrtl, que comemora. Como assim? O juiz encontrara, num desses agarra-agarras no meio da área uma falta, e dentro da área é pênalti: Xabi Alonso cobra e coloca fogo no jogo.

Nesse momento, a comemoração de Gerrard nas tribunas traz a certeza que todo espectador tinha: esse era o jogo do Liverpool. Não era possível que o time não se classificasse. O Chelsea havia entrado relaxado no jogo, e agora já era tarde demais: seria questão de tempo para que o terceiro, e até o quarto gol saíssem, e o Liverpool conseguisse mais um feito heróico.

De fato, jogando o que estava jogando, o Chelsea não passaria para as semi-finais. Então, o técnico Guss Hiddink fez o que qualquer técnico em seu lugar faria: disse para o time que ele tinha que jogar – mas só ele conseguiria fazer o Chelsea jogar o que jogou – como só ele, até agora, tem 85% de aproveitamento no comando do time.

O Chelsea voltou para o segundo tempo e começou a jogar como havia jogado em Anfield na primeira partida. Não era um time vistoso, que sobrava em campo, mas era um time com posse de bola, que ia criando e aos poucos passava a jogar e, mais importante, ia impedindo que o Liverpool jogasse. E aos poucos, num lance que parecia despretensioso, Anelka carrega a bola para a linha de fundo e cruza rasteiro; Drogba ganha do zagueiro, e com um leve desvio, muda a trajetória da bola; o goleiro Pepe Reina, que se posicionava para fechar o cruzamento, percebe o toque do atacante, endireita o corpo mas falha ao tentar segurar a bola, empurrando-a para dentro. É o primeiro gol do Chelsea.

O 2x1 não era um resultado que mudava drasticamente o rumo das coisas, já que o Liverpool ainda sobreviveria com o gol a mais. Mas o Chelsea era um novo Chelsea, que continuou criando, e sendo parado com faltas perigosas próximas à área do goleiro Reina. Na primeira dessas faltas, Drogba mandou tão perto que até a ESPN mudou o placar, erroneamente. Já na segunda, o zagueiro Alex manda um balaço, desses que os cobradores acertam uma a cada mil, e, sem defesa para o goleiro Reina, empata a partida: 2x2, e o Liverpool parece o mesmo gatinho da semana passada, perto do leão Chelsea.

Gatinho porque o Liverpool tentava voltar a jogar, mas era dominado pelo Chelsea, que continuava a jogar o futebol, que de tão objetivo é impressionante. Aos 31 minutos do segundo tempo, numa falha na saída de bola, o Ballack rouba a bola do Liverpool e, num passe genial, desses que ele está cansado de fazer, manda a bola num ponto vazio do campo, onde só o Drogba pode chegar. O marfinense chega na bola, carrega, finge que vai bater, dá um toque a mais e cruza para o meio da área, onde Lampard está para completar para o gol.

Parecia o fim da partida, e aí ficava claro porque o Liverpool não tinha chance contra o Chelsea: enquanto o Liverpool tinha Gerrard e Torres como grandes nomes, de fato, o Chelsea tinha Lampard, Drogba, Essiën, Ballack... E ficava claro como o bom trabalho do Guss Hiddink conseguia fazer com que esses jogadores mostrassem seu talento.

Os jogadores do Chelsea acharam que a fatura estava decidida: eram necessários três gols em 15 minutos, e isso nem o Liverpool faz. Os comentaristas da TV tinham certeza que a história havia acabado, e até o técnico do Liverpool achou que não dava mais, tanto que tirou Fernando Torres e colocou o jovem N’gog, poupando o artilheiro para o Campeonato Inglês.

Mas uma história com esses mesmo parâmetros já foi contada aqui. Se o Chelsea relaxava na partida, achando que ela já estava ganha, havia quem achasse que ainda dava: os jogadores do Liverpool. Aos 36 minutos o brasileiro Lucas acha espaço na intermediária do Chelsea e bate de fora da área; a bola desvia em Essiën e entra. O que parecia um gol de consolação muda quando, no ataque seguinte, Rieira faz o cruzamento e Dirk Kuyt, antecipando dois zagueiros do Chelsea, faz o quarto gol do Liverpool! Agora esta 4x3, faltam quase 10 minutos com acréscimos, e, se o Liverpool fizer só mais um, passa para a próxima fase, mais heroicamente que nunca.

Porém, se a história se repete, nos sabemos o que o Chelsea vai fazer nesses últimos 10 minutos de partida. O técnico Guss Hiddink, ao invés de fechar mais a equipe e torcer para que o resultado mantenha-se assim, manda seus jogadores voltarem a jogar bola. E, mais uma vez, quando o Chelsea volta à realidade da partida e deixa de tentar ser um time que só se defende, volta a bater de igual para igual com o Liverpool. E não só isso, volta a ser superior ao Liverpool, como sempre foi quando jogou com a cabeça durante as quartas-de-final. E a prova disso é que, no último minuto, em mais uma jogada pela direita, Anelka rola para trás e Lampard acerta um chutasso, o mais bonito dos 8 gols da partida, que bate nas duas traves antes de entrar e finalmente decretar números finais à partida.



Prefiram o que quiser, mas não há jogo num torneio de pontos corridos que consiga ter essa emoção.

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