terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Felipão demitido do Chelsea

Felipão foi demitido do Chelsea, e, para mim, porque não foi Felipão no Chelsea. No time inglês ele tentou ser um técnico que nunca foi, com uma forma de trabalhar, dentro e fora de campo, que não seguiu sua característica, tão marcante por ser vencedora.



Fora de campo, Felipão não se impôs. O Felipão de sempre é aquele cara que sempre bateu de frente com a mídia, opinião pública e com dirigentes, por ter certeza que o que fazia era o melhor para a equipe. Não só por barrar Romário, mas por barrar Victor Bahia e Rui Costa da seleção Portuguesa. Era de se imaginar que no Chelsea não seria diferente, mas foi.

Felipão foi indeciso. No começo do trabalho mostrou como queria jogar, e, pelos resultados negativos (e pelas contusões) mudou o estilo de jogo. Felipão não insistiu, como insistiria normalmente, por medo, pressão, ou por ter mudado mesmo. Mas, se o futuro não é de ninguém, o que dá para saber é que não fui mudando a equipe (e sua forma de ser) que a equipe melhorou – na verdade, piorou, e ele perdeu o emprego.

O possível racha no elenco é algo estranho de se ver no comando de Felipão: ele não trabalha com elencos rachados, ele cria famílias. Talvez a língua tenha atrapalhado, mas é difícil ver o Felipão sem o elenco na mão. E sempre criou o elenco se impondo, e até esse ponto é que mostra como o técnico não foi “cabeça-dura” o bastante.

Dentro de campo, o time não era motivado, como se espera que um time do Felipão seja. Para mim, isso é culpa da língua: não falava inglês. Isso não é problema para se montar um elenco, mas é para motivar como ele motiva. A vontade faz parte do jogo, e está na cabeça do jogador – sem as palavras certas não se chega no limite, tão comum dele.

Taticamente, o time não era do Felipão. Sem pegada no meio, no ataque e na defesa; muito vulnerável e lento. Talvez ele tenha percebido esse problema, e tentou ajustá-lo mudando o esquema tático, saindo do 4-4-2:

Cech;
Bosingwa, Terry, Carvalho e A. Cole;
Essiën;
Lampard e Ballack;
Deco;
Anelka e Joe Cole.

para o 4-3-3:

Cech;
Bosingwa, Terry, Carvalho e A. Cole;
Mikel
Lampard e Ballack;
Kalou, Anelka e Malouda.

O que não ajudou em muita coisa. Este time ainda é lento, já que só o Kalou é corredor; Lampard e Ballack correm mais que todos os outros, mas não para dar opção pelos lados do campo, mas centralizando, aparecendo para criarem as jogadas. Sem ninguém que receba e abra os espaços, elas não vão aparecer.

O estranho aqui foi a atuação do Felipão na janela de julho/agosto, onde pode contratar e deixou rombos na equipe: nenhum primeiro volante de ofício, nenhum segundo atacante de ofício. Para jogar no 4-3-3 estava claro que ele precisava de um ponta esquerda leve, e de sorte, já que as fases de Malouda e Kalou não são das melhores. Até eu vi isso, e ele deixou passar.

E, deixando passar, não foi Felipão outra vez: o técnico que faz o simples. Em todos os times que Felipão passou, ele nunca se destacou pela engenharia tática – o que não é ruim, porque nem sempre se destaca por ser bom engenheiro. Fazer o simples não é fácil, e ele sempre fez o time mais simples possível. A contratação do Deco não se explica, já que Ballack e Lampard são jogadores da mesma posição, e o Essiën deveria ocupar uma vaga no meio-de-campo, até para dar mobilidade ao time. Inventando demais o técnico brasileiro se perdeu – no time e da sua característica.



É mais um técnico top brasileiro que não faz sucesso num time de ponta na Europa. Ele disse que vai ficar morando em Londres até o meio do ano, o que significa que, a princípio, ele não assume nenhum time até o meio do ano, o começo da próxima temporada.

O assessor de imprensa dele disse que não existe a possibilidade dele voltar a trabalhar num clube no Brasil, agora.

Sendo assim, neste momento o panorama é o seguinte:

1- Ele fica lá, tira férias e pega um time/seleção no meio do ano. Dificilmente será um time grande, principalmente com o sucesso dos técnicos lá.

E aí depende de quem vai assumir o Chelsea Por enquanto são especulados Zola e Di Matteo (ex-jogadores do clube), Guss Hiddink, Roberto Mancini e Frank Rijkaard. Acho que a primeira opção é o Guss, mas ele disse que não sai até acabar o contrato com a seleção russa. Depois eles vão para Mancini ou Rijkaard, que são os técnicos de grandes clubes sem trabalho agora.

Com essas especulações, não deve abrir nenhum buraco para o Felipão em time grande. Para mim, o melhor cenário, para ele, seria o contínuo fracasso do Real Madrid, com uma possível demissão do Juande Ramos no final da temporada e aí ele assume o Real Madrid, ou a possível volta ao comando da seleção de Portugal, levando em conta que lá ele faz falta.

De resto, para treinar um time pequeno/médio eu voltaria para um grande aqui.

2- Ele assume a seleção brasileira. Chances não vão faltar: primeiro porque é Dunga, segundo por que teremos a Copa das Confederações no meio do ano, e aí um fracasso poderia ser o estopim/desculpa/motivo para a troca de técnico.

Com a moral que ele tem na CBF, chega e fala: "dá que eu resolvo", e tenta fazer um trabalho como o de 2002. Se ele tem pretensões de ficar na Europa, seria o trabalho a pegar, porque não terá os problemas que teve no Chelsea: idioma, motivação e controle do grupo. E, quem sabe, volta a fazer um trabalho com cara de Felipão.

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