Para quem não conhece, Steven Gerrard é um talentoso meio-campo inglês, daqueles raros e clássicos camisa 8, que sabe marcar, chutar, cobrar faltas, escanteios e dar lançamentos longos com os dois pés, além de fazer gols.
Outra raridade nos dias atuais, Gerrard atuou por um único clube em sua carreira: o Liverpool.
Pelos Reds, ele conquistou duas Copas da Inglaterra (2000-01, 2005-06), duas Copas da Liga Inglesa (2000-01, 2002-03), uma Copa da Uefa (2000-01), além de uma Liga dos Campeões (2004-05), naquele famoso jogo no qual o time inglês conseguiu o improvável empate contra o Milan (3 a 3) e levou a taça do mais importante torneio de clubes do continente europeu nos pênaltis.
Não conquistou o Mundial de Clubes da Fifa talvez porque outra raridade de talento e amor ao clube tenha impedido.
Na final contra o São Paulo, em 2005, Rogério Ceni fechou o gol tricolor, especialmente numa cobrança de falta perfeita de Gerrard, no segundo tempo, em que o goleiro transformou-se em pássaro para buscar a bola no ângulo direito.
Pois Gerrard tem um pedido à Uefa, instituição que organiza a Liga dos Campeões e que é presidida pelo ex-jogador e gênio francês Michel Platini.
Gerrard não quer jogar no dia 15 de abril.
Pelo calendário, haverá a rodada de volta das quartas-de-final da Liga.
O Liverpool está nas quartas-de-final do torneio.
Na sexta-feira, a Uefa sorteia os confrontos entre os oito times que restaram (além do Liverpool, Chelsea, Arsenal, Manchester United, Villarreal, Porto, Bayern de Munique e Barcelona avançaram no torneio).
As partidas de ida estão marcadas para os dias 7 e 8 de abril. As de volta, dias 14 e 15.
Mas, dia 15 de abril é uma data de más recordações ao time da cidade dos Beatles.
Há 20 anos, em 1989, em partida contra o Nottingham Forest, pelas semifinais da Copa da Inglaterra, 96 torcedores do Liverpool morreram pisoteados e esmagados contra o alambrado do estádio de Hillsborough, na cidade de Sheffield.
Entre eles, estava um primo de Gerrard.
Todo ano, a torcida vermelha presta homenagens às vítimas da tragédia.
É uma data emotiva e de luto para todos na cidade.
Quatro anos antes, a torcida do Liverpool vivera algo semelhante no estádio de Heysel, na Bélgica.
Na final da Liga dos Campeões de 1985, entre os Reds e a Juventus, uma briga entre os hooligans ingleses e os tiffosi italianos fez com que o alambrado que separava as torcidas cedesse, além da queda de um muro.
Saldo final: 38 pessoas mortas.
Apesar de tudo, a partida aconteceu e a Juventus conquistou o título com vitória por 1 a 0.
Gol de pênalti de Michel Platini, o mesmo que hoje preside a Uefa.
Depois da "Tragédia de Heysel", todos os times ingleses foram proibidos de participar de competições europeias por cinco anos.
No entanto, o estopim para mudanças profundas no futebol britânico foi a "Tragédia de Hillsborough".
Depois do episódio, o juiz e lorde Taylor escreveu o que ficou conhecido como "Relatório Taylor".
O texto apontava os problemas de violência no futebol inglês, como os hooligans, estádios sem assentos e sem lugares marcados, além dos alambrados, os principais motivos pela tragédias em Heysel e Sheffield.
Conduzida pela primeira-ministra Margareth Tatcher, a mudança no futebol inglês foi profunda e transformou o país em modelo na organização e gestão do esporte em alguns anos.
Mas, apesar de todas as mudanças positivas no futebol inglês, Gerrard não quer jogar no dia 15 de abril.
Michel Platini, sensível que é e espectador de uma das tragédias citadas acima, já disse que vai atender ao pedido.
Gerrard agradece, com um francês britânico: Merci, Michel!
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*Texto escrito por Fernando Figueiredo Mello, reproduzido hoje no blog do Juca Kfouri
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