Nos últimos dias, a mudança do calendário virou um must entre a crônica esportiva, a ponto da CBF encarregar-se de fazer uma proposta para mudar o calendário do futebol brasileiro, fazendo com que a temporada comece em agosto e acabe em junho.
Não acho que essa mudança é interessante. Acredito que ela traz muito menos soluções do que acreditam, e ainda alguns problemas.
Primeiro: o que realmente mudará com o novo calendário? Para mim, só duas coisas (i) a possibilidade dos times jogarem torneios amistosos na pré-temporada e (ii) a amenização da saída de jogadores no meio do Campeonato Brasileiro.
Em (i), o resultado será muito menor do que pensam. Primeiro, porque os times no Brasil geralmente tem duas semanas de pré-temporada (extender-me-ei depois nesse assunto) e segundo porque há a idéia de que os times Europeus fazem suas receitas com o marketing nos mercados orientais, quando na verdade a maior parte da receita desses times vem do marketing interno, com estádios cheios e cotas de televisão. Sei que os jogos da Europa vão para todo o mundo, mas só vão porque os times europeus tem os melhores jogadores do mundo, e não porque eles passaram lá e jogaram um amistoso. Mesmo no Brasil, que tem a maior parte dos seus craques lá, os jogos só passam na tv fechada, ou seja, para uma parcela bem pequena da população.
Em (ii), o resultado também não será completo, será ameno. Isso porque a janela de janeiro existe, e geralmente jogadores que se destacam saem, mesmo que seja para não jogarem no time que forem (a lista é encabeçada por três das maiores promessas que apareceram nos último anos: Thiago Silva, Breno e Alexandre Pato). A verdade é que, se os times quiserem vender os jogadores, não há calendário que os segure.
De resto, a mudança não resolverá os problemas que o calendário tem hoje, então a pré-temporada continuará tendo duas semanas, ainda teremos meses com dois jogos por semana e ainda se jogará partidas dos campeonato nas datas FIFA.
Para mim, a verdade é uma só: é muito jogo para pouca data. São 38 rodadas do Campeonato Brasileiro, 16 da Copa do Brasil, 23 do campeonato regional (pegando São Paulo como exemplo), 16 da Libertadores e mais 10 da Sul-Americana. Ao todo 87 datas (já que quem joga a Libertadores não joga a Copa do Brasil), se não contarmos as possíveis Recopa Sul-Americana (+2), Copa Suruga (que o Inter acabou de jogar no Japão +1) e o Mundial Inter Clubes (+2). Ou seja, podem ser 92 datas para o calendário dos times brasileiros.
Ou seja, num ano com 52 semanas, se tirarmos oito para férias e pré-temporada, sobram 44 semanas para a temporada, e claramente não é possível fazer um jogo por semana - e nem dois, já que faltariam 4 datas em potencial. Já que cada time tem duas ou três semanas de pré-temporada, é de se imaginar como é possível que haja semanas com um só jogo, e não ficar abismado pelos meses com 8 jogos. Ah, as datas FIFA. Em 2009 são 12, e ano que vem tem Copa do Mundo. Ou seja, não tem espaço para tanto jogo no calendário brasileiro.
Mudando o começo da temporada ou não, ou se diminui os números de jogos, ou deixa como está. O máximo que se pode fazer é adequar o calendário ao calendário inglês, que em alguns momentos chega a ter times jogando três vezes por semana, com jogos dias 26 de dezembro e 1º de janeiro, só para que as datas FIFA fiquem livres.
A discussão do calendário passa muito pelo interesse do "futebol brasileiro", quando na verdade é o interesse de quem comenta o futebol brasileiro. Os times reclamam, mas pode ter certeza que eles fazem o que lhe é mais conveniente, assim como os jogadores - e de fato, são eles que jogam. Cabe ao torcedor comprar o produto ou não.
Mustang + Skate
Há 14 anos
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