quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Elenco recheados

Hoje, o hype no Brasil é o elenco. Para ganhar campeonatos, você precisa de elenco, porque jogadores machucam, e o time não pode perder muita produtividade.

Eu chamo essa idéa de hype porque todo mundo fala, mas ninguém pensa sobre o assunto.

Quais times, no mundo, têm elencos em que reservas e titulares são pau-a-pau? Nenhum. Talvez o Chelsea, que mesmo sem um primeiro volante tem o Deco, o Joe Cole e o Alex no banco. Nem o Barcelona tem um elenco recheado, mesmo com um time titular fantástico.

Caracterizo como grande elenco aquele que, com a perde de mais de 3 jogadores, consegue manter a produtividade. Porque, mesmo que um jogador faça falta, os outros 10 dão conta. Por isso, não adianta falar: "se o Yaya Touré machuca no Barcelona, pode entrar o Keita", ou "se o Raul machuca no Real Madrid pode entrar o Benzema".

A questão tem que ser: "se Xavi, Iniesta e Messi machucarem, quem entra?". Tá certo que você pode argumentar que eu peguei os três mais importantes, mas foi de propósito. Mas antes, o que importa é mostrar que, nenhum time no mundo pode manter regularidade com muitas baixas, porque:

1- invariavelmente titulares são melhores, por isso são titulares;
2- quem entra pode não ter ritmo de jogo, e dificilmente tem entrosamento.

Acredito que não há como montar um elenco com jogadores com qualidades parecidas. Além disso acredito que um elenco cheio não faz com que o time mantenha produtividade, ainda mais perdendo seus jogadores principais.

Não há uma relação tão forte entre elenco e dependência dos melhores jogadores quanto imaginam. Todos os times têm jogadores que se destacam, e ser dependente desses jogadores não significa que você terá uma peça para o lugar deles quando eles não jogam (o que não existe), mas que o time nunca joga na dependência dos lances deles. A questão é técnica, do trabalho do técnico, e não administrativa, do trabalho da diretoria. O Barcelona não jogará a mesma coisa sem Messi, Iniesta e Xavi, e a diferença de jogar com eles e sem eles vai ser menor o quanto melhor for o trabalho do Guardiola.

Outro ponto interessante é que, como encher o elenco é hype, ninguém se faz a velha pergunta: "vale mais quantitade ou qualidade?". De fato, times como o São Paulo tem contratado muito, e jogadores bons. A questão é que, quase nenhum deles, até agora, é melhor do que os jogadores titulares do ano passado. Monta-se o elenco para o momento adverso, e não para o bom momento.

Certamente o São Paulo estará pronto para o momento que seus jogadores titulares machucare. Mas, se nenhum machucar, não há ninguém de novo que melhore o time. Você pode falar do Marcelinho, mas um meia-de-ligação foi realmente o problema? O J. Wagner estava jogando bem na meia, não acho que o Paraíba como armador vá melhorar tanto o São Paulo. O Rodrigo Souto, por exemplo, é uma contratação mais importante, pois o time precisava de um primeiro-volante.

Elencos recheados trazem dois problemas: egos e salários. Comentaristas adoram dizer que não saber quem colocar para jogar é uma "dúvida positiva" para o técnico. Só na hora de montar o time, porque na hora de motivar quem não joga é bem mais difícil. Jogadores medianos aceitam a reserva, bons jogadores não têm tempo a perder para serem jogadores de elenco. Além disso, bons jogadores recebem bem demais para não serem utilizados.

Não acho que ter um bom elenco seja ruim, mas não é tudo. O que importa no futebol, é o futebol, que é a junção de bons jogadores, bem treinados, bem escalados e bem instruídos taticamente. Qualquer fator fora disso pode ser decisivo em momentos ímpares e imprevisíveis. Todo investimento ajuda, mas o mais importante é o investimento no futebol.

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